quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Educando o olhar da Observação

Em 2003, tive a oportunidade de fazer parte do grupo de formação de educadores da Prof. Madalena Freire, para quem não sabe, filha de Paulo Freire. Tive a  Felicidade de conviver com uma grande mulher que inspira e transpira o conhecimento na prática, no cotidiano.  Vivenciei a construção do conhecimento a partir da afetividade, da vida em grupo, da escuta, do olhar, do intuir, do falar e escrever com a essência do coração. Experiência reveladora e transformadora, que instiga e provoca até os dias de hoje o caminhar constante para o meu desenvolvimento.
Tenho assim, a prática da reflexão de ser docente, de ser psicóloga, de buscar ser coerente nas minhas ações... Para tanto, passei a utilizar uma ferramenta poderosa e simples: A observação e o registro. O planejamento, o registro e a avaliação, estão entrelaçados pelo ato do Observar e, segundo Madalena Freire, "temos que educar o olhar da Observação".
Observar é a ação que precisa ser aprendida. No entanto, nem sempre a nossa capacidade de observar está suficientemente desenvolvida.
Madalena Freire, escreveu sobre a Aprendizagem do Olhar, da seguinte maneira:
" Não fomos educados para olhar pensando o mundo, a realidade, nós mesmos. Nosso olhar cristalizado nos estereótipos produziu em nós paralisia, fatalismo, cegueira.
Para romper esse modelo autoritário, a observação é a ferramenta básica neste aprendizado da construção do olhar sensível e pensante.
Olhar que envolve ATENÇÃO e PRESENÇA. Atenção que segundo “Simone Weil” é a mais alta forma de generosidade. Atenção que envolve sintonia consigo mesmo, com o grupo. Concentração do olhar inclui escuta de silêncios e ruídos na comunicação.
O ver e o escutar fazem parte do processo da construção desse olhar. Também não fomos educados para a escuta. Em geral não ouvimos o que o outro fala mas sim o que gostaríamos de ouvir. Neste sentido imaginamos o que o outro estaria falando... Não partimos de sua fala, mas de nossa fala interna. Reproduzimos desse modo o monólogo que nos ensinaram.
O mesmo acontece em relação ao nosso olhar estereotipado, parado, querendo ver só o que nos agrada, o que sabemos, também reproduzindo um olhar de monólogo. Um olhar e uma escuta dessintonizada, alienada da realidade do grupo. Buscando ver e escutar não o grupo ( ou o educando) real, mas o que temos na nossa imaginação, fantasia – a criança do livro, o grupo idealizado.
Ver o ouvir demanda implicação, entrega ao outro.
Estar aberto para vê-lo e/ou ouvi-lo como é, no que diz, partindo de suas hipóteses, de seu pensar. É buscar a sintonia com o ritmo do outro, do grupo, adequando em harmonia ao nosso.
Para tanto, também necessitamos estar concentrados com nosso ritmo interno. A ação de olhar e escutar é um sair de si para ver o outro e a realidade segundo seus próprios pontos de vista, segundo sua história.
Só podemos olhar o outro e sua história se temos conosco mesmo uma abertura de aprendiz que se observa (se estuda) em sua própria história." 

Aprendi muito com a coordenação atenta e presente da Prof. Madalena Freire, a ela dedico a minha eterna gratidão. 

Renata Càlíxto

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